Em Portugal e, principalmente, no Alentejo, desconhece-se a maioria dos fungos produtores de cogumelos que colonizam os diversos ecossistemas. Este desconhecimento conduz à aplicação de medidas de gestão dos ecossistemas com vista a uma maior rentabilização económica, como o corte da vegetação, a fertilização, a remoção e/ou revolvimento das camadas orgânica e mineral do solo e a introdução de gado, que são, muitas vezes, prejudiciais para os fungos. Para além destas medidas, a própria actividade de recolha de cogumelos silvestres realizada por algumas pessoas, poderá também ter impactes negativos nas comunidades de fungos produtores desses cogumelos, se for feita em excesso, pois irá interferir no processo de reprodução destes organismos. Assim, em condições mais desfavoráveis ou quando estão sujeitos a constantes pressões negativas, os fungos mais sensíveis ou vulneráveis não conseguem sobreviver e desaparecem desses ecossistemas.
Tendo em conta o importante papel ecológico dos fungos nos ecossistemas e também a importância de algumas espécies produtoras de cogumelos comestíveis na economia nacional e mundial, é essencial conhecer melhor estes organismos, para depois se poderem proteger e preservar de uma forma mais eficaz.
No entanto, para quem recolhe cogumelos silvestres, já existe um código de boas práticas que deverá ser respeitado, se se pretender, simultaneamente, proteger e garantir a presença dos fungos produtores de cogumelos nesses locais e a segurança de quem os recolhe:
Assim, sempre que se faz uma saída de campo para recolher cogumelos é importante:
1. Contactar sempre o proprietário ou administrador do terreno para solicitar a sua autorização para a colheita de cogumelos;
2. Não destruir indiscriminadamente cogumelos de qualquer espécie, pois todos cumprem uma função ecológica importante no ecossistema ou, até, poderão pertencer a uma espécie ameaçada ou rara que importa conservar. Assim, se forem arrancados e não se pretender utilizá-los, devem colocar-se novamente no solo, de forma a possibilitar a melhor dispersão dos seus esporos.
3. Não apanhar cogumelos jovens, mas exemplares mais maduros, pois estes últimos já terão tido tempo para dispersar alguns esporos, que permitirão a realização do ciclo de vida e a continuidade da espécie;
4. Não colher cogumelos, para comer, que levantem quaisquer dúvidas na sua identificação, pois existem muitas espécies semelhantes, facilmente confundíveis, que poderão ser tóxicas ou mesmo mortais. Nestes casos, também não pode recorrer a crenças populares, como as técnicas da colher de prata, dentes de alho ou cebola que se pensa que enegrecem em contacto com substâncias tóxicas, pois não são fiáveis e não funcionam com todas as substâncias. Para além disso, o facto de um cogumelo ser consumido por caracóis, insectos ou outros animais não significa que seja comestível para os seres humanos, podendo mesmo em certos casos ser extremamente tóxico ou mortal. Assim, devem recolher-se, apenas, as espécies de cogumelos que se conhecem bem e que habitualmente se apanham;
5. Não colher cogumelos na proximidade de zonas industriais (poluentes), bermas de estradas e terrenos com agricultura intensiva, uma vez em que os fungos têm a capacidade de acumular metais pesados e outros produtos tóxicos nos cogumelos que produzem;
6. Não recolher todos os exemplares de cogumelos comestíveis, mas deixar alguns cogumelos no terreno para permitir a dispersão de esporos e a realização do ciclo de vida da espécie, assegurando a sua presença nos anos seguintes;
7. Recolher, para consumo, apenas cogumelos em bom estado, pois os exemplares muito maduros ou deteriorados por larvas ou por outros fungos podem conter substâncias tóxicas. Para além disso, uma identificação correcta deverá ser feita com base em exemplares nem muito jovens, nem muito maduros, pois o seu aspecto morfológico altera-se com a maturação, podendo tornar difícil a identificação e ocasionar falsas determinações;
8. Cortar os cogumelos pela base do pé, rente ao solo, com um canivete, tendo o cuidado de não se remover a terra ou escavar em volta do cogumelo para não provocar estragos em todo o organismo produtor do cogumelo (micélio) e, em alguns casos, nas próprias raízes das árvores;
9. Transportar os cogumelos em recipientes que possibilitem a dispersão dos esporos e ao mesmo tempo o arejamento do material transportado, como cestas de vime, palha ou rede. Não utilizar sacos de plástico, pois estes favorecem o aumento da humidade que irá provocar a deterioração dos cogumelos. Para além disso, não deverá transportar conjuntamente cogumelos tóxicos ou duvidosos com exemplares que irão ser consumidos, pois os primeiros poderão contaminar as espécies comestíveis com os seus esporos ou fragmentos.
10. Em caso de intoxicação contactar de imediato o CIAV (Tel: 808 25 01 43).
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